Industrialização pode aumentar produtividade da construção

Uma das maneiras de aumentar a produtividade na construção civil, ou seja, elevar o rendimento dos serviços por hora de trabalho, é por meio da . Além de reduzir esforços físicos no canteiro, o conceito atua em outros aspectos variáveis da construção, como a caracterização arquitetônica e a fabricação dos materiais.

Baseada na pré-fabricação, a industrialização permite agilizar a produção de estruturas, vigas e outros elementos utilizados na construção. Esses elementos são fabricados em ambientes controlados fora do canteiro e, depois, levados à obra para montagem.

Para agilizar mais etapas, ainda, a pré-fabricação deve aliar-se à mecanização e à organização do trabalho. “A falta de um desses itens ou tê-los de uma maneira precária leva a níveis de industrialização mais baixos”, afirma Ubiraci Espinelli Lemes de Souza, doutor em engenharia de construção civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (EPUSP) e pela Pennsylvania State University.

Para que isso seja possível, o especialista diz que é necessário integrar diversos agentes da cadeia produtiva, como operários, subempreiteiros, construtores, projetistas e fornecedores, entre outros. “A boa industrialização pressupõe o trabalho conjunto. A cooperação dos vários agentes dessa cadeia de suprimentos pode ser a grande diferença para uma mudança dos níveis de produtividade da construção”, aponta.

Um estudo elaborado pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP) junto à FGV (Fundação Getúlio Vargas) identificou níveis variáveis na produtividade da construção brasileira. Embora apresente maiores embasamentos no que diz respeito a questões econômicas, relacionando estrutura tributária e afins, a pesquisa também reconhece que é preciso medidas institucionais e empresariais que otimizem o processo produtivo e organizem o canteiro.

Com base nesses dados, nota-se que a questão física demandada no canteiro interfere diretamente na produtividade. “Pensando na mão de obra, trata-se do esforço dos trabalhadores medido em homem-hora para gerar uma certa quantidade de serviço”, esclarece Lemes. O cálculo de quantas pessoas são necessárias para concretar um número x de m³, por exemplo, é feito por meio de um indicador chamado RUP (Razão Unitária de Produção). “É medido, assim, homem-hora por m², homem-hora por quilo e homem-hora por litro de aplicação de revestimento, entre outros” revela.

Dessa forma, os diferentes níveis de industrialização na construção que existem no país podem refletir a variável nos índices de produtividade da construção brasileira. De acordo com os dados comparativos, enquanto uma obra utiliza cinco homens-hora para produzir 1 m³ de construção, outras requerem 80 homens-hora ou mais para edificar a mesma quantidade no mesmo intervalo de tempo.

Outra frente da industrialização na construção civil refere-se à caracterização arquitetônica, na qual o conceito permite amenizar aspectos que tornam as obras menos produtivas. “Por exemplo, uma casa de alto padrão equivale a vários ambientes, subdivisões, vedações verticais, revestimentos bacanas, sistemas prediais acoplados e uma cobertura com várias camadas. É um produto complexo, que aumenta a quantidade de homem-hora”, justifica Lemes.

ASPECTOS DE MECANIZAÇÃO E ORGANIZAÇÃO
Pelo fato de a industrialização lidar com materiais pré-fabricados, que, em sua maioria, apresentam peso próprio elevado, há demanda por máquinas e equipamentos que viabilizem e facilitem as montagens no canteiro. Sem eles, a mão de obra pode ficar sobrecarregada, reduzindo o rendimento por hora. “Não adiantaria encher a obra de pré-fabricado e colocar uma talha para montar esses materiais. A falta de equipamentos pode minimizar todo um ganho de potencial que a pré-fabricação vem a trazer”, adverte Lemes.

A redução na mão de obra para a execução da construção pode representar um grau de mecanização. “Quando se faz um transporte manual de blocos com pallet por meio de uma grua é gasto um número de homem-hora completamente diferente daquele gasto com um concreto bombeado ou um concreto transportado com giricas”, compara.

A diferença extrema entre os níveis de mecanização pode ser notada ao comparar casos em que há ausência total de equipamentos para execução de um serviço e outros em que é aplicada a robotização em larga escala dos processos. Lemes exemplifica citando um vídeo famoso da Internet que mostra um garoto empilhando tijolos na cabeça, descendo de um barco e andando sobre uma tábua até chegar ao local onde deposita os materiais. “Esse seria o cúmulo da não-mecanização”, observa. “E, por outro lado, já é possível fazer prédios inteiros com impressoras 3D, de forma totalmente mecanizada”, compara.

Em relação à organização do trabalho, a otimização se dá por meio de práticas e métodos adotados pelos executores de obras que atendam às demandas de uma construção industrializada. “É necessário pensar como que é o trabalho da equipe que está ali na frente, como incluir no projeto do canteiro um plano de ataque adequado, um sistema de transporte necessário e um desenho das posições bem coerentes”, considera Lemes.

“A desorganização do trabalho refere-se a um local de produção onde as coisas não estão nos devidos locais, onde a forma de estocagem e de movimentação levam ao desperdício de tempo e de material, além da geração de resíduos”, conclui.

Fonte: Revista Construa