Empresário da indústria se mostra mais confiante para recompor estoques, aponta Sondagem do FGV IBRE
Os empresários do setor industrial brasileiro começaram 2024 mantendo o otimismo em trajetória de recuperação. O Índice de Confiança da Indústria do FGV IBRE (ICI) subiu 1,8 ponto em janeiro, para 97,4 pontos, quarta alta consecutiva. Com isso, o ICI alcança 97,4 pontos, melhor resultado desde agosto de 2022, quando atingiu o nível de neutralidade de 100 pontos.
O resultado de janeiro foi disseminado: dos 19 setores analisados pela Sondagem da Indústria, apenas quatro registraram queda. Stéfano Pacini, economista do FGV IBRE responsável pela análise e divulgação do indicador, afirma ainda que a maior parte desses resultados negativos corresponde mais a uma calibragem após um ritmo de recuperação mais acelerado observado nesses setores no final de 2023 do que um sinal de reversão de trajetória. “É o caso da indústria do vestuário, que já tinha superado os 100 pontos em confiança, e agora compensa um acúmulo forte de altas”, diz. O mesmo diagnóstico vale para os fabricantes de veículos automotores, que também passam por uma acomodação da confiança, depois de seis altas consecutivas do indicador. A exceção é o setor de couro e calçados, diz Pacini, que registra queda na confiança desde outubro, fechando janeiro na casa dos 83 pontos, nível que inspira preocupação. O quarto setor que registrou queda é o de outros produtos, que por reunir segmentos variados apresenta evoluções diferenciadas.
Uma boa notícia apontada pela Sondagem de janeiro é de que a alta da confiança se deu por uma melhora de percepção dos empresários tanto quanto à situação atual do negócio quanto no horizonte de três e de seis meses. Pacini afirma que essa evolução positiva mostra que o receio dos empresários em dinamizar a atividade arrefeceu. “Ao que tudo indica, estamos diante de um movimento de reaquecimento da produção”, diz. Dois indicadores reforçam esse cenário mais positivo. O primeiro é o de nível de estoques.
Depois de mais de um ano registrando um resultado acima do nível considerado confortável – identificado quando o resultado supera os 100 pontos – esse indicador voltou para os dois dígitos. “Em janeiro, o nível de estoques fechou em 99,4 pontos, depois de terminar 2023 em 103,9 pontos”, descreve Pacini, destacando que desde setembro de 2022 esse indicador não ficava abaixo de 100 pontos. Na outra ponta, o indicador que mede a produção prevista – no qual uma evolução crescente é sinal de boas perspectivas de negócio – tomou a direção contrária e se aproximou dos 100 pontos, fechando janeiro em 99,3 pontos. “A última vez que esse indicador registrou um resultado acima dos 100 pontos foi em junho de 2022, quando se observou o início da normalização da cadeia de insumos depois do choque provocado pela pandemia de Covid-19”, lembra Pacini, destacando ainda que a escalada da taxa de juros básica no mundo para conter a inflação, iniciada em 2021 e que no Brasil superou os 10% no início de 2022, colaborou para uma reversão desse otimismo.
Nível de estoques x produção prevista, em pontos
As perspectivas de queda de juros este ano são um fator positivo para a indústria, mas a nova política industrial lançada pelo governo é que tem dado o impulso adicional. “Nossa coleta de janeiro encerrou dia 24, pouco depois do anúncio oficial da Nova Indústria Brasil (NIB), mas o processo de debate do governo com o setor e a promoção de medidas transversais de crédito e facilitação de negócios é uma agenda que tem evoluído desde 2023”, lembra. Até o momento, as análises em torno da NIB têm refletido certa desconfiança e cautela, como mostra Claudio Conceição na mais recente coluna Em Foco. “De fato, trata-se de uma política que ainda merece um acompanhamento quanto a como será desenvolvida. Por ora, entretanto, é possível identificar que o diálogo entre governo e indústria tem sido bem-recebido pelos empresários”, diz.