Setor de máquinas e equipamentos aposta em recuperação para 2025, impulsionado por infraestrutura e agronegócio

O setor de máquinas e equipamentos, especialmente em Minas Gerais, projeta uma recuperação gradual para 2025, após três anos consecutivos de queda. A expectativa é baseada em uma combinação de fatores, incluindo uma base de comparação baixa em relação a 2024, além da demanda robusta de segmentos menos dependentes da taxa básica de juros (Selic), como infraestrutura e indústria extrativa, e o bom desempenho esperado do agronegócio, que prevê uma safra recorde este ano.
A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) estima um crescimento de 3,7% na receita total de vendas em 2025, após sinais de recuperação iniciados no segundo semestre de 2024. No entanto, a diretora de Competitividade, Economia e Estatística da Abimaq, Cristina Zanella , ressalta que esse desempenho representa mais uma recuperação do que um crescimento estrutural.
Infraestrutura e agronegócio como motores da retomada
Grandes projetos de infraestrutura, financiados por debêntures, capital próprio ou recursos externos – alternativas ao crédito atrelado à Selic –, têm gerado otimismo no setor. Além disso, o agronegócio, com uma projeção de safra recorde de 325,3 milhões de toneladas de grãos pelo IBGE, deve impulsionar a demanda por máquinas e equipamentos agrícolas, mesmo diante de juros elevados.
“Mesmo com a taxa de juros alta, outros fatores, como uma boa safra, podem incentivar investimentos no setor”, explica Cristina Zanella.
Os dados de janeiro de 2025 reforçam essa tendência positiva: a receita líquida total do setor cresceu 19,5% na comparação anual, somando R$ 20,5 bilhões . O mercado doméstico foi o principal motor desse avanço, com uma receita interna de R$ 15,5 bilhões , alta de 32,3% frente a janeiro de 2024 . O consumo aparente também aumentou, alcançando R$ 33 bilhões , com crescimento de 37,6% na comparação anual.
Desafios impostos pela Selic alta
Apesar do otimismo, o patamar elevado da Selic continua sendo um entrave significativo para o setor. A política monetária contracionista restringe investimentos em maquinário, impactando principalmente pequenas e médias empresas.
Para Daniel Junqueira , presidente do Sindicato da Indústria da Mecânica de Minas Gerais (Sindimec) , a alta nos juros aumenta consideravelmente o tempo de retorno dos investimentos, reduzindo a confiança dos empresários. “Qualquer investimento feito hoje tem seu payback ampliado substancialmente. Isso gera incerteza e pode adiar decisões importantes”, afirma.
Além disso, a Selic elevada pode estar favorecendo a importação de máquinas e equipamentos, especialmente da China , que se consolidou como o principal fornecedor do Brasil em janeiro, respondendo por 36% das importações do setor . No mês, as importações cresceram 19,3% , atingindo US$ 2,7 bilhões , o maior volume já registrado para o período.
Por outro lado, as exportações enfrentaram dificuldades, com uma queda de 22,3% em relação a janeiro de 2024, totalizando US$ 818 milhões . A redução foi puxada principalmente pela diminuição dos embarques para os Estados Unidos , Singapura e México.
Impacto das políticas comerciais de Trump
Embora ainda não seja possível atribuir diretamente a queda nas exportações para os EUA às políticas tarifárias do presidente Donald Trump , Cristina Zanella destaca a necessidade de monitorar os próximos meses e as medidas implementadas pelo governo americano. “Outros fatores podem ter influenciado o resultado de janeiro, mas é essencial observar as tendências futuras”, avalia.
Perspectivas para o mercado de trabalho
Apesar dos desafios, o nível de ocupação no setor apresentou leve melhora. Em janeiro, o número de empregados aumentou 0,4% em relação a dezembro de 2024, totalizando 400,2 mil trabalhadores . Esse crescimento reflete a retomada gradual da atividade econômica, embora ainda insuficiente para compensar as perdas acumuladas nos últimos anos.
Conclusão
O setor de máquinas e equipamentos caminha para uma recuperação em 2025, sustentada por demandas de infraestrutura, indústria extrativa e agronegócio. No entanto, a alta da Selic e as incertezas no cenário externo continuam sendo obstáculos significativos. Para garantir um crescimento sustentável, será fundamental acompanhar as políticas comerciais globais e as decisões do Banco Central brasileiro, além de investir em competitividade e inovação.