O que levou o setor de máquinas a sair da incerteza para o otimismo
A indústria brasileira de máquinas e equipamentos aposta em uma maior demanda do setor da construção civil com a retomada de obras e a expectativa do início de um ciclo de cortes na taxa de juros no segundo semestre, o que tende a reduzir o custo do financiamento imobiliário e incentivar os lançamentos pelas incorporadoras. Outro segmento visto com cenário favorável é o de máquinas agrícolas, com as maiores exportações esperadas para o agronegócio.
A previsão otimista para o mercado de construtoras e incorporadoras já se reflete no pregão da B3. O IMOB (Índice Imobiliário), índice dos ativos mais negociados do setor imobiliário, teve valorização de 4,68% em janeiro, acima do desempenho do Ibovespa (2,31%) no período. O índice cedeu nos primeiros dias de fevereiro, mas ainda acumula alta de 2,27% até o fechamento de sexta-feira (2).
Uma das alavancas de negócios para o setor imobiliário deve ser o relançamento do MCMV (Programa Minha Casa Minha Vida) pelo governo federal com subsídios para projetos habitacionais voltados para o consumidor de baixa renda. A expectativa é que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva participe de uma cerimônia de relançamento do programa no próximo dia 14 de fevereiro, na Bahia.
“O novo governo incluiu um adicional de aproximadamente R$ 10 bilhões para o novo MCMV no orçamento fiscal de 2023″, observaram os analistas Bruno Mendonça (Bradesco BBI) e Wellington Loureço (Ágora Investimentos), em relatório sobre a volta do programa habitacional.
Apesar dos incentivos esperados às construtoras, que ainda enfrentam o efeito das taxas elevadas de juros na concessão de financiamentos, o setor de máquinas e equipamentos ainda espera um semestre desafiador diante das incertezas locais e externas.
Dados referentes ao desempenho do setor em 2022, divulgados na terça-feira (31) pela Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas), que reúne mais de 9 mil empresas, confirmaram um quadro de desaceleração no quarto trimestre do ano passado, quando o mercado parou para acompanhar o desfecho das eleições presidenciais e se multiplicaram alertas de recessão global.
“O último semestre, e mais intensamente o último trimestre do ano, veio acompanhado de onda de incertezas que reduziu ainda mais as vendas de máquinas e equipamentos”, destacou o relatório da Abimaq sobre a queda de 4,1% no faturamento do setor em dezembro e de 5,9% em 2022 inteiro.
Esses números da Abimaq significam que o setor interrompeu um ciclo de quatro anos consecutivos de crescimento. As projeções indicam um movimento de recuperação.
Para 2023, a entidade projeta crescimento da receita total do setor da ordem de 2,4% a partir das premissas de maiores exportações, câmbio estável e recuperação nas vendas de máquinas e equipamentos para construtoras, bem como aumento de pedidos pelos produtores rurais.
Investimentos
Os investimentos do setor de máquinas e equipamentos cresceram acima do esperado em 2022, disse Maria Cristina Zanella, diretora da Abimaq para temas econômicos, em teleconferência com a imprensa sobre o balanço de 2022.
A previsão inicial era de R$ 15,4 bilhões, mas se concretizaram investimentos de R$ 16,5 bilhões no ano passado. Para 2023, a associação projeta queda nos investimentos, para R$ 12 bilhões, diante do quadro de desaquecimento econômico.
“Os investimentos são principalmente na modernização de tecnologia”, destacou Zanella.
Ela considera que a taxa Selic de 13,75% ao ano encarece o acesso ao crédito e eleva os custos financeiros das companhias, o que explica a desaceleração verificada no segundo semestre de 2022.
As previsões da Abimaq não incorporaram expectativas de mudanças tributárias nem projetos governamentais. O ministro Fernando Haddad (Fazenda) tem destacado, em suas conversas com o setor produtivo, a necessidade de políticas de crédito que promovam a reindustrialização no país.
“Vemos a reindustrialização com bons olhos. Estamos tratando esse assunto com o governo atual. Durante a campanha eleitoral, apresentamos propostas para estimular a indústria nacional, que perdeu importância ao longo do tempo, hoje só responde por 11% do PIB, participação que já foi de 30% no passado”, disse a diretora da Abimaq.
Zenella acrescentou que, além de medidas para superar a perda da competitividade da indústria brasileira, o setor tem discutido com o governo temas como a reforma tributária para desonerar o setor e simplificar o sistema de tributos, além de estímulos à inovação e à qualificação da mão de obra.
Exportações
“Esperamos crescimento de 8% na receita de exportação medida em dólar”, disse Maria Cristina Zanella, diretora da Abimaq para temas econômicos.
Os países da América do Sul estão aumentando suas compras de máquinas e equipamentos produzidos no Brasil. A participação da região foi de 37% no ano passado, o maior patamar desde 2017, segundo a Abimaq. Em 2º lugar, aparece a América do Norte (33%), seguida pela Europa (12%).
Em dezembro, o setor exportou US$ 1,2 bilhão em máquinas e equipamentos, o segundo maior resultado do ano. Foram vendidas para o exterior US$ 12,2 bilhões no ano passado, aumento de 21%. As exportações representam mais de 20% da receita dessas indústrias.
“A valorização do câmbio anulou esse crescimento quando as receitas são convertidas em reais”, observou Zanella.
Em 2022, o dólar comercial acumulou queda de 5,3%, a primeira baixa anual desde 2016.
Já as importações de máquinas e equipamentos cresceram 11,8% no ano passado, atingindo um total de US$ 24 bilhões, impulsionadas pelas máquinas para agricultura e máquinas para petróleo e energia renovável, segundo a Abimaq.
O Brasil importa máquinas e equipamentos principalmente da China (participação de 27,8%), EUA (17,4%), Alemanha (11,7%), Itália (6%), Japão (4,3%) e Coreia do Sul (2,2%).