Incômodo com juros altos bate recorde na indústria, diz CNI

O incômodo da indústria com os juros altos no país bateu recorde no primeiro trimestre deste ano. É o que indica uma sondagem divulgada nesta quinta-feira (20) pela CNI (Confederação Nacional da Indústria).

Conforme a pesquisa, 28,8% dos empresários consultados citaram as taxas de juros elevadas como um dos principais problemas nos três meses iniciais de 2023.

Trata-se do maior percentual registrado por esse fator na série histórica da sondagem, com dados disponíveis a partir de 2015. A CNI afirma que a menção aos juros altos chama atenção porque “está ganhando cada vez mais relevância”.

“Desde 2022, em todos os trimestres, esse problema foi bastante apresentado pelas indústrias e marca um percentual acima de 20% consecutivamente”, diz a entidade em nota.

A preocupação vem em linha com manifestações recentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que fez críticas em sequência ao BC (Banco Central) e ao patamar da taxa básica de juros, a Selic.

No início de fevereiro, Lula disse que o nível da Selic (13,75% ao ano) era uma “vergonha”. O presidente também afirmou na ocasião que a “classe empresarial precisa aprender a reivindicar, a reclamar dos juros altos”.

“Quando o Banco Central era dependente de mim, todo mundo reclamava. O único dia em que a Fiesp [federação da indústria paulista] falava era quando aumentava os juros. Era o único dia […]. Agora, eles não falam”, afirmou Lula.

A sondagem divulgada pela CNI nesta quinta consultou mais de 1.600 empresas de pequeno, médio e grande porte no Brasil.

Na lista dos principais problemas da indústria no primeiro trimestre, os juros só ficaram atrás da elevada carga tributária (34,6%) e da demanda interna insuficiente (33,3%), conforme a pesquisa. Essas questões, diz a CNI, costumam aparecer no topo das preocupações dos empresários.

A sondagem ainda aponta que as indústrias indicaram piora nas condições financeiras no primeiro trimestre.

O índice que mensura a facilidade de acesso ao crédito apresentou queda de 4,7 pontos, de 42,7 pontos para 38 pontos. O indicador ficou abaixo tanto da linha divisória (50 pontos) quanto da média da série histórica (39,8 pontos).

“Essa dificuldade para acessar crédito está relacionada ao aumento da restrição nos critérios de concessão, dada a taxa de inadimplência alta, inclusive em razão de eventos adversos de grandes empresas varejistas”, afirmou o gerente de análise econômica da CNI, Marcelo Azevedo.

A manutenção da Selic em nível elevado é a arma do BC para tentar conter a inflação. A medida busca frear os preços ao esfriar a demanda por bens e serviços.

O efeito colateral esperado é a perda de fôlego da atividade econômica, porque o custo do crédito fica mais alto para empresas e consumidores.

Na quarta-feira (19), o presidente do BC, Roberto Campos Neto, avaliou que a “batalha” contra a inflação ainda não está ganha e que é preciso “persistir”.

O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) desacelerou a 4,65% nos 12 meses até março. É o nível mais baixo em mais de dois anos.

Para Campos Neto, os dados cheios da inflação continuam “poluídos” por mudanças recentes na taxação de produtos, e os núcleos, que desconsideram preços mais volá teis, seguem altos.

Fonte: Folha de S. Paulo