Corte nos juros anima construção civil
Um misto de euforia e apreensão. Esse é o sentimento das construtoras frente ao anúncio do Banco Central de reduzir o juros. Na segunda redução do ano, a Selic definida pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) passa a ser de 12,75% ao ano.
O corte de 0,5 ponto era previsto pelo mercado, pois havia uma indicação de continuidade de revisões na taxa. “Juros altos inibem qualquer negócio. Esse movimento é positivo para a construção, pois a maioria das compras são por meio de financiamentos”, diz o diretor da Construtora Zagonel, José Zagonel.
“Temos uma sinalização importante. Mas é preciso baixar mais. Assim pode-se retomar as negociações, pois neste momento o mercado está bastante instável”, frisa.
Da Construtora Lucasa, Luiz Carlos Sartori, também comemora a redução. “Com menos custo pelo dinheiro, as pessoas ficam mais animadas para investir.” Ainda assim, o empresário condiciona: “poderia ser mais rápido se não houvesse tantas incertezas com relação a política fiscal do governo”.
Sócio da Base Imóveis, Ivan Eidelwein, também demonstra otimismo. “O setor da construção, seja para moradia ou como investimento futuro, sempre ocupou espaço de destaque. Nos últimos meses, muitos preferiram o retorno do mercado financeiro, deixando as economias nos bancos. Ainda assim, a valorização dos imóveis traz mais retorno no longo prazo.”
Em cima disso, acredita que as duas quedas em agosto e setembro mostram a tendência que o juros siga para baixo. Esse cenário se reflete em perspectiva positiva para os próximos meses. Tanto pelas melhores condições dos financiamentos pelo Minha Casa Minha Vida, quanto para imóveis de maior valor, dizem os empresários.
Fiergs cobra equilíbrio fiscal
Com a inflação sob controle e uma taxa de juros ainda elevada, o presidente da Federação das Indústrias do RS (Fiergs), Gilberto Porcello Petry, considera que o BC “age de maneira assertiva ao trazer um sinal de alívio para as atividades produtivas, tão afetadas com os atuais níveis de juros e falta de confiança”.
No entanto, o dirigente ressalta que a elevação dos cortes da Selic depende de uma política fiscal equilibrada. Considera que o comprometimento do governo federal é um dos responsáveis por controlar a inflação e o juros. “Nesse sentido, o cumprimento das metas estabelecidas no novo Marco Fiscal é de suma importância para que tenhamos juros em patamares mais favoráveis ao crescimento do setor produtivo.”
Mais uma baixa até dezembro
A economista Fernanda Sindelar concorda com os apontamentos sobre a política fiscal do governo Lula. Para ela, havia espaço para uma queda de 0,75 ponto por parte do Copom. Indicativo de que o BC avalia com cautela o momento econômico nacional.
“Qualquer queda interfere sobre a economia nacional. Juros é despesa financeira adicional. Então havia uma redução esperada. Alguns analistas acreditavam que fosse até maior. Por isso esperamos que até dezembro tenha uma nova revisão para menos 0,5%.”
De acordo com ela, os principais segmentos beneficiados com a medida do BC são as atividades de bens duráveis, com maior valor agregado. Neste campo, a indústria, concessionárias de veículos e a própria construção civil. Em cima disso, realça: “há um medo de crise fiscal ainda muito grande. A inadimplência segue alta, o que exige despesas em políticas sociais. Enquanto isso, o setor produtivo clama por investimentos. Tudo isso, de fato, gera dúvidas ao mercado.”