Selic alta faz setor de máquinas projetar 2023 no vermelho
A manutenção da taxa básica de juros, a Selic, em 13,75% na quinta-feira (22) pelo Comitê de Política Monetária (Copom) e a falta de sinalização clara de que o início do ciclo de baixa possa começar já a partir do próximo encontro, em agosto, vai levar o setor de máquinas a rever suas previsões para 2023. Mesmo ainda na metade do ano, na próxima quarta-feira (28), a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) divulga os números do setor em maio e deve apresentar novas projeções para 2023, passando de expectativa de alta de 2,4% para queda na receita total. E com poucas perspectivas de voltar ao azul até dezembro.
O setor começou o ano e manteve até agora a estimativa de crescimento de 0,6% na receita interna e de 8,6% nas exportações. Isso levaria a alta de 2,4% no faturamento total dos fabricantes. O acumulado até abril, no entanto, já sinalizava que as metas seriam difíceis de serem alcançadas. Nos quatro primeiros meses do ano a receita total somou R$ 91,7 bilhões, queda de 6,5% na comparação com 2022. A receita interna, de R$ 69,4 bilhões, ficou 11,9% menor na comparação anual. As exportações ainda crescem 23,4% em 2023, somando US$ 4,3 bilhões.
“A manutenção da taxa de juros não condiz com a realidade de um cenário econômico mais controlado. Mas preocupa que não veio uma sinalização para a próxima reunião (do Banco Central) em agosto. Esperamos que a ata (do Copom) possa trazer uma surpresa boa”, afirma Cristina Zanella, diretora de competitividade, economia e estatística da Abimaq. “O pior cenário é se o ciclo de baixa ficar para 2024. Dependemos de investimento do setor produtivo e como concorrer com uma taxa de juros real de quase 9%”, questiona a economista, numa referência à atual política do Banco Central que estimula o investimento em ativos financeiros e não na produção.
Zanella lembra ainda que uma redução da Selic não significa queda imediata nas taxas de juros praticadas pelos bancos, que pode demorar meses para ser sentida na ponta tomadora de financiamentos. E o ritmo de redução também pesa sobre a indústria. “Se o corte vier de 0,25 pontos percentuais a cada reunião, teremos ainda dois anos de juros na casa dos dois dígitos”, destaca.
Ela disse que as projeções que serão apresentadas na próxima semana ainda não estão fechadas, mas devem indicar uma leve queda na receita total para o ano. Os números de maio também não estão fechados, mas serão melhores do que os de abril, porém ainda abaixo do mesmo mês de 2022. O que vai aprofundar a queda acumulada neste ano.
As exportações tendem a se manter acima do US$ 1 bilhão por mês no restante do ano e fechar com crescimento. Mas a valorização do real vai afetar o receita final do comércio exterior. A Abimaq trabalhava com dólar entre R$ 5,10 e R$ 5,20 para 2023, o que dificilmente será atingido. Com o câmbio em torno de R$ 4,80, o setor começa também a enfrentar problemas de competitividade.
Zanella afirma que os contratos de exportação são de longo prazo e o desempenho de 2023 está garantido. Para 2024, no entanto, o setor pode encontrar dificuldades no mercado externo.
O impacto negativo da taxa de juros e câmbio sobre o setor não se dá de forma igual. Fabricantes que atendem o agronegócio ou os setores extrativistas têm previsões mais positivas para o ano. Já quem fabrica máquinas para segmentos ligados ao consumo — alimentos, bebidas e têxtil, por exemplo — já está sendo afetado. A linha amarela, de máquinas usadas em construção, também sentiu a redução nos negócios.
Para além da questão dos juros e câmbio, a diretora da Abimaq destaca que existem motivos para manter o otimismo. Ela cita a reforma tributária e a discussão do arcabouço fiscal como fundamentais para estimular investimentos e acelerar o corte de juros. E medidas que estão sendo avaliadas pelo BNDES para as suas linhas de crédito podem oferecer boas opções de financiamento ao setor produtivo.