Retorno do ‘Minha Casa, Minha Vida’ deve aquecer setor da construção civil

retomada do “Minha Casa, Minha Vida” deve ser uma das prioridades do Governo Federal no terceiro mandato do presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT). O anúncio foi feito nesta semana durante a posse de Jader Filho no Ministério das Cidades, que conta com recursos de R$ 10 bilhões já garantidos no orçamento deste ano após a aprovação da PEC da Transição. Em entrevista à GloboNews, o ministro adiantou que há cerca de 83 mil obras paradas e 5 mil devem ser retomadas ainda em janeiro. As promessas têm sido bem recebidas pelo setor da construção civil, bem como por quem espera o maior enfrentamento do problema do déficit de moradias populares no país.

O programa “Minha Casa, Minha Vida” foi criado em 2009 e subsidiava prioritariamente a aquisição de um imóvel para famílias com renda de até R$ 1,8 mil. No governo de Jair Bolsonaro, o programa foi rebatizado como Casa Verde e Amarela e passou a facilitar as condições de acesso ao imóvel para famílias com renda de até R$ 9 mil. Na entrevista, Jader Filho afirmou que o atendimento da chamada “faixa 1”, que contempla as famílias com menor renda, será o principal foco.

Para Alex Carvalho, presidente do Sindicato da Indústria da Construção do Estado do Pará (Sinduscon-PA), a medida é positiva. “Considerando o elevado déficit habitacional existente em nosso país e a importância social de dar condições de moradia digna às pessoas de menor poder aquisitivo, entendemos como um grande acerto olhar de forma prioritária o tratamento desta demanda, que traz na esteira a geração de emprego e renda, que certamente serão incrementadas a partir das obras que serão contratadas”, avalia.

As expectativas positivas são justificáveis diante do fato de que, apesar da redução do número de empregados no setor, o Brasil possui um estoque de 2.577.923 trabalhadores formais na construção civil, segundo balanço do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) até o mês de novembro. Somente no Pará, a pesquisa indica que são 84.294 trabalhadores contratados.

Carvalho considera que o restabelecimento do “Minha Casa, Minha Vida” tendo um ministro paraense à frente da pasta favorece ainda mais a co-participação do setor na proposição de melhorias. “Com o ministro Jader Filho, temos total convicção de que poderemos contribuir muito para este objetivo, trazer com isso a possibilidade do nosso Pará e demais estados na região Norte, enfim, serem percebidos como parte da solução do nosso país e não como mais um problema. Estamos muito entusiasmados e confiantes de que este trabalho será um grande legado à toda sociedade paraense e amazônica”, destaca.

Entre essas contribuições, o presidente do Sinduscon-PA frisa que defende a continuidade de alguns mecanismos incorporados ao programa pelo governo anterior, visando atender a demanda de grupos sociais com renda superior a três salários mínimos. “Nas demais modalidades, que utilizam os recursos do FGTS, penso que o governo passado promoveu um importante avanço no modelo ao acolher demandas do nosso setor, capitaneadas pela CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), equalizando de forma mais realista a distribuição dos subsídios conforme as peculiaridades de cada região, potencializando esses recursos nas regiões Norte e Nordeste, sabidamente as menos favorecidas”, pontua o empresário, que também é favorável a existência de programa de Estado para a habitação com dotação permanente de recursos para a área.

Movimento social defende combate ao déficit habitacional

O retorno do “Minha Casa, Minha Vida” também é bem visto pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), que há 23 anos pauta o debate sobre moradia e reforma urbana em 20 estados e no Distrito Federal e que inclusive participou das discussões do grupo de trabalho do Ministério das Cidades no processo de transição.

“Nossas principais contribuições tem sido o retorno do projeto, com melhorias desde estruturais nos empreendimentos tanto quanto de maiores investimentos e participação popular. Também, ser incluído no programa o uso de espaços ociosos, que não cumprem com função social, para fins de moradia, principalmente os que se encontram nos centros urbanos, pois assim, facilmente resolveríamos o déficit habitacional que hoje só em Belém é de mais de 100 mil habitações, no Pará mais de 4OO mil e a nível nacional chega a 7 milhões de famílias”, comenta Dara Neto, coordenadora estadual do MLB.

Contudo, Dara Neto avalia que é preciso ir além da retomada do projeto e, de fato, enfrentar o problema da falta de habitação atendendo principalmente ao público das faixas de renda mais baixas. Além disso, ela defende revogação de medidas, como a Emenda Constitucional 95, que estabeleceu o chamado teto de gastos para investimentos em áreas sociais, bem como mudanças na dinâmica de funcionamento dos órgãos da área.

“Acreditamos que o principal desafio para que o povo tenha acesso é desburocratização das secretárias e companhias de habitação e que esses órgãos estejam de fato nas comunidades, vivendo e experienciando as realidades concretas, e sobretudo ouvindo o povo”, diz a liderança, que acrescenta que mesmo com a maior abertura com o novo governo, as mobilizações devem continuar como forma de pressionar o poder público por avanços na garantia de moradia. “A organização popular e os métodos de luta, como as ocupações urbanas, irão continuar existindo, pois a necessidade de moradia é urgente e na maioria das vezes não se dá para ficar esperando”, reforça.

Fonte: O Liberal