Queda na tendência de autoconstrução prejudica vendas de cimento

O presidente-executivo do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC), Paulo Camillo Penna, divulgou projeções desfavoráveis para o segmento cimenteiro até o fim de 2022. Ele contou que, diante das condições econômicas e previsões (nacionais e internacionais), a estimativa é que o setor feche o ano com declínio de 2% nas vendas.

A performance das vendas de cimento na comparação entre agosto e setembro corrobora a afirmação. Com recuo de 6,8% na comparação mensal, o setor comercializou apenas 5,5 milhões de toneladas no intervalo. Na comparação anual, o declínio é de 3,8% nas vendas, segundo o boletim mensal do SNIC.

Entre os motivos para o mau desempenho durante o segundo semestre de 2022, estão, principalmente, o colapso da autoconstrução; a Copa do Mundo de futebol; a alta taxa de juros; o endividamento das famílias; e o desequilíbrio entre vendas e lançamentos de imóveis atual.

“O que observamos ao longo do tempo é que o vetor da autoconstrução, que foi determinante para o crescimento da nossa atividade na pandemia, praticamente entrou em colapso a partir de julho do ano passado”, diz o executivo. “Com 13,75% de taxa de juros, investidores no setor da construção de imóveis têm competição desigual com o mercado financeiro, principalmente com renda fixa. Nós ainda calculamos que, durante a Copa do Mundo no Catar, que vai de 20 de novembro a 18 de dezembro, as perdas cheguem a 0,5% no volume de vendas”, complementa.

Isso porque, na indústria do cimento, a segunda metade do ano é mais forte em vendas, chegando a representar 60% do total. “Temos menos de dois meses — outubro e 20 dias de novembro — para aproveitar. Depois é Copa e as festas de final de ano”, explica Penna. A SNIC calcula que, se não tivesse o evento, a indústria poderia terminar este ano com retração menor nas vendas, de 1,5%.

Outra preocupação da instituição é a disparidade entre lançamentos e vendas de imóveis. Os lançamentos registraram queda de 6% no primeiro semestre, ao passo que as vendas aumentaram 1,4%. Ou seja, o número de obras que demandam cimento e outros materiais tende a diminuir.

Considerando os últimos 12 meses na indústria do setor, foram vendidas 62,96 milhões de toneladas desde outubro de 2021 — um dado que representa recuo de 2,66% em comparação com o mesmo intervalo do ano anterior. As vendas do terceiro trimestre, com 16,9 milhões de toneladas, tiveram queda de 0,6% ante igual trimestre de 2021. “Começamos o ano com o propósito de não perder os ganhos obtidos desde 2019, mas essa perspectiva foi se deteriorando como passar do ano”, afirma Penna. Tudo indica que o setor terminará 2022 com menos 1,25 milhão de toneladas de consumo, ficando em torno de 63,5 milhões de toneladas.

O informativo do SNIC afirma, por fim, que, apesar da projeção do desempenho de 2% ter sido amenizado com a recuperação dos empregos e do PIB, outros fatores da economia, no entanto, colaboram para manter o índice na zona negativa. Entre eles a taxa de juros ainda elevada e o alto endividamento das famílias no país.

Fonte: AECweb