Onde investir em 2023: aposta é em renda fixa e ações de educação e construção civil

Onde investir em 2023: aposta é em renda fixa e ações de educação e construção civil

Entre altas e baixas, o Ibovespa, principal índice da bolsa de valores, está fechando o ano com uma valorização média de 3,5%, segundo dados da plataforma TradeMap. Esse resultado pode ser positivo para quem investe em alguns produtos de renda variável, mas é ainda melhor para quem se decidiu pela renda fixa neste ano.

Isso porque a taxa básica de juros, a Selic, que serve de referência para os títulos de renda fixa, encerrou o ano em 13,75%, o menor patamar desde dezembro de 2016. Com isso, há produtos que pagaram até 17% ao ano, como os CDBs, que remuneram o dobro da Selic por três meses.

Parte dos especialistas acredita que investimentos pré e pós-fixados devem continuar com as maiores valorizações em 2023, sobretudo porque o relatório Focus do Banco Central aposta em uma taxa de 11,75% no fim do ano que vem. Algumas corretoras preveem um índice ainda maior – caso do BTG Pactual, que antecipa 12,75% no quarto trimestre.

Para Lorena Laudares, cientista política e sócia da Órama Investimentos, o desempenho da taxa básica vai continuar atrelado a fatores variados, dos micro aos macroeconômicos. Ela destaca que diversos países continuam subindo os juros, na tentativa de conter a inflação, o que também pode ditar o desempenho no ambiente doméstico.

“Vemos no horizonte de 2023 algumas coisas mal resolvidas em 2022, como a questão da dinâmica entre a inflação e a taxa de juros ao redor do mundo. Por outro lado, não esperávamos que a abertura do comércio na China, que está ocorrendo agora, fosse ser tão retardada. Isso pode ajudar o Brasil, com o aumento na demanda por matérias-primas que o país exporta”, avalia.

Para a cientista política, o cenário fiscal é um ponto de atenção, que pode dirigir os números do próximo ano. “Ainda existe a incerteza sobre qual será a postura do novo governo em relação aos gastos públicos. Temos três possíveis presidenciáveis para as eleições de 2026 em pastas ligadas à economia, e essa configuração pode pressionar os gastos públicos, ocasionando uma alta inflacionária por excesso de liquidez”, opina.

Nesse caso, o cenário mais otimista é que os produtos de renda fixa continuem tendo um papel importante na carteira de investimentos. CDBs, LCIs, LCAs e outros com características pré-definidas podem continuar a entregar bons rendimentos aos investidores.

Educação e Construção versus Estatais

Nos dias posteriores ao resultado do segundo turno eleitoral, houve uma alta expressiva nas ações ligadas aos setores de Educação e Construção Civil. Isso ocorreu como uma aposta do mercado no retrospecto dos dois governos anteriores do presidente eleito Lula (PT), quando houve ampla destinação de recursos para a educação superior e a moradia popular.

Por outro lado, empresas estatais como Petrobras e Banco do Brasil sofreram desvalorização, com os acionistas mais criteriosos, temendo uma intervenção do novo governo nas companhias. As ações da petroleira chegaram a despencar mais de 20% no intervalo de um mês.

Na avaliação de Lucas Serra, analista da Toro Investimentos, do grupo Santander, os investidores devem estar mais atentos a esses setores em 2023, especialmente nos primeiros meses do ano, quando deve se desenhar a nova gestão. Segundo ele, ainda não se sabe se haverá uma reprodução do que aconteceu em períodos passados, mas as projeções, mesmo precoces, mostram que o processo pode se refazer.

“O setor de educação é um que pode se beneficiar do novo governo, porque deve se repetir o fomento ao acesso ao ensino superior, por meio das linhas de crédito, a exemplo do FIES. No setor de construção civil, podem ser beneficiadas especialmente aquelas empresas que trabalham com produtos destinados ao público de baixa renda”, avalia.

Olhando para a bolsa de valores como um todo, a corretora se mantém em uma esteira conservadora, optando por ações de empresas com maior solidez e previsibilidade de receitas, perfil dos setores de energia elétrica e mineração, diz Serra, destacando os papéis da Vale. “Também recomendamos o setor de petróleo, pensando em benefícios no curto e médio prazo, mas evitando alocação em estatais”, comenta, indicando a 3R Petroleum em detrimento da Petrobras.

Na análise de outra corretora, a Ativa Investimentos, o Ibovespa pode chegar à casa de 125 mil pontos no fim de 2023, com um ganho de quase 15% em relação aos índices atuais. A corretora frisa que, dentro da sua cobertura, os tickets com grande potencial – até 100% de alta – são do varejo digital (Magalu e Americanas), proteínas (JBS e BRF) e turismo (Azul).

Mudanças na renda fixa

Entram em vigor no próximo dia 2 de janeiro as novas regras dos produtos de renda fixa, que mudam a forma como os investidores enxergam a remuneração de parte dos ativos, como debêntures e títulos públicos. Com a alteração feita pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), a exibição do histórico do ativo deve seguir o modelo de “marcação à mercado”, que mostra o desempenho do produto diariamente.

A marcação à mercado reflete a expectativa econômica em relação à taxa de juros da economia. Desta forma, ela corrige a remuneração dos ativos de renda fixa, especialmente os que estão atrelados aos índices econômicos, como é o caso do Tesouro IPCA+.

Na prática, agora o investidor vai perceber que o seu rendimento fixo sofre uma flutuação diária, e que, com o passar do tempo, o montante pode valer menos ou mais que o acordado na aplicação. Essas mudanças, porém, impactam apenas aqueles que resgatarem seus recursos antes do vencimento, pois a taxa de correção está garantida para quem cumprir com os termos do título.

“Essa regra vai trazer mais transparência e permitir que o investidor identifique oportunidades. Muitos vão estranhar no início porque, no senso comum, a renda fixa não tem variação. Agora, além dos investimentos em bolsa, os consumidores vão sentir a variação de renda fixa que não sentiam antes”, ressalta Lorena, da Toro.