Oferta reduzida de empreiteiras alerta empresas da construção civil

O setor da construção civil enfrenta um momento de estado de alerta. Vivenciando uma ausência significativa de empreiteiras (empresas contratadas por construtoras para a realização de uma obra) no mercado, as contratantes de licitações têm investido em uma série de ações para não perder contratos, estourar prazos e desperdiçar investimentos.

As iniciativas são muitas, desde a busca por fornecedores locais até o incentivo de programas de formação e estratégias semelhantes, que ficavam sob a responsabilidade da empreiteira.

Este, entretanto, não é o único motivador para a mudança de atitude. Além das demandas cotidianas do setor da construção civil, as construtoras ainda enfrentam a possibilidade de perder licitações na casa dos R$ 500 bilhões durante a próxima década, direcionadas à edificação de ferrovias, rodovias, energia e saneamento.

Apesar da circunstância ter sido acentuada nos últimos meses, o contratempo não é recente. Os esforços para remediar a ausência das empreiteiras no mercado começaram logo após a Operação Lava-Jato, que aconteceu entre 2014 e 2021, e revelou um esquema de corrupção que afetou as grandes construtoras do país.

Foram anos para que as companhias começassem a se recuperar dos acontecimentos, em um progresso que foi minado pelos impactos da pandemia de Covid-19, que, além de estipular um período de isolamento social, desorganizou a cadeia global do segmento da construção em níveis surpreendentes. Tomando como exemplo as três maiores construtoras brasileiras — Odebrecht (hoje Novonor), Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa — o total de empregados recuou de 165 mil para os atuais 49 mil colaboradores.

Diante desse cenário, o governo federal anunciou medidas que auxiliassem o universo da construção civil. Foi divulgada uma série de propostas para auxiliar o ramo — entre elas, o leilão de cem ativos de infraestrutura de transportes (garantindo a contratação de R$ 116,4 bilhões em investimentos), com 49 concessões de aeroportos, 36 arrendamentos portuários e sete projetos ferroviários e rodoviários. Novamente, o êxito dos esforços foi interrompido, dessa vez pela guerra na Ucrânia, que gerou pressão nos custos para o setor.

Atualmente, muitas construtoras têm buscado uma reacomodação do espaço que era ocupado pelas empreiteiras mais tradicionais, preenchendo-as por outras empresas. “É um momento em que, se você tem grandes obras para fazer, você tem alguns desafios para encontrar fornecedores com capacidade para essas grandes obras. Além disso, somam-se dois outros fatores, como custo de capital elevado em função de subida da taxa de juros e a crise na cadeia de suprimentos”, conta Marcos Ganut, sócio-diretor da A&M.

José Carlos Martins, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), destaca a falta de grandes obras no país nos últimos anos, a pouca preparação e planejamento das médias construtoras e a baixa capacitação da mão de obra. “O setor chegou a ter três milhões de vagas, caiu para 1,9 milhão e hoje está em 2,6 milhões. Esse cenário complexo deve se agravar entre 2024 e 2025, quando vai ocorrer o pico das obras”, complementa.

Fonte: AECWeb