Medidas de descarbonização crescem no setor da construção civil

Uma pesquisa da Johnson Controls, empresa especializada em edificações sustentáveis, constatou que empreendimentos que não contemplam ações para reduzir a pegada de carbono desde a fase construtiva tendem a perder valor de mercado. Essa é uma das muitas justificativas para um comportamento que vem sendo observado em demasia por todo o planeta: o crescimento de medidas de descarbonização no setor da construção civil.

A conscientização e a necessidade de diminuir as emissões de carbono, além da perda financeira, foram apontadas como fatores significativos para a mudança no pensamento observada nos projetos e construções contemporâneos. Essa mudança tem acometido desde entidades de classe a empresas privadas e órgãos públicos, que propõem práticas e soluções efetivas na redução.

No Brasil, por exemplo, instituições como a Associação Brasileira das Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), o Sindicato da Construção Civil (SindusCon-SP) e o Sindicato da Habitação (Secovi-SP) têm realizado um trabalho ecológico considerável ao liderar comitês que discutem e orientam o desenvolvimento de uma pauta importante para o país: o cenário de carbono zero no setor da construção até 2050.

ACORDO DE PARIS

As preocupações no âmbito da ecologia começaram a crescer, em especial, após a assinatura do Acordo de Paris, homologado em 2015 pela ONU. O acordo, firmado por 175 nações (incluindo o Brasil), estabeleceu um sistema de referência internacional para limitar a elevação das temperaturas no mundo. A partir da assinatura, os países se comprometiam a manter a elevação a níveis inferiores a 1,5 grau Celsius acima dos níveis pré-industriais, o que reduziria de forma significativa o impacto das mudanças climáticas.

Desde então, o mundo da construção tem sido o berço de uma série de iniciativas que fomentam a descarbonização no setor. Em 2020, por exemplo, o Sinduscon-SP, em parceria com a empresa alemã Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ), lançou o CE Carbon: uma ferramenta gratuita que calcula o consumo energético e as emissões de carbono dos materiais usados na construção civil.

As iniciativas ficaram ainda mais assertivas depois do estudo desenvolvido pela Agência Internacional de Energia (IEA), que apontava os principais responsáveis pela liberação de gases do efeito estufa na atmosfera. Nele, foi constatado que a construção civil mundial é a responsável direta e indireta pela liberação de 39% dos gases, e, desse total, 11% é relativo à produção de aço e cimento.

Pensando nisso, a Secretaria de Infraestrutura e do Meio Ambiente do Estado de São Paulo desenvolveu o Plano de Ação Climática Net Zero 2050, ainda em 2021, que possui cinco eixos:
• Eletrificação acelerada;
• Combustíveis avançados;
• Eficiência sistêmica;
• Resiliência e soluções baseadas na natureza; e
• Finanças verdes e inovação.

O subsecretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, Eduardo Trani, que também é coordenador do Plano de Ação Climática Net Zero 2050, ainda explicou que “o primeiro grande objetivo é atingir o urbanismo sustentável, em parceria com o setor privado”.

Para o vice-presidente do Secovi-SP, Claudio Bernardes, as iniciativas são necessárias para ampliar a conscientização dos setores público e privado quanto a soluções construtivas mais sustentáveis. “Se as áreas do mercado imobiliário trabalharem conjuntamente, será possível zerar as emissões de carbono ou algo muito perto disso”, acredita.

No Brasil, reuniões setoriais têm sido organizadas com o objetivo de estimular incorporadoras e empresas da cadeia a produzir inventários de emissões de gases de efeito estufa (GEE) e gerar ações efetivas que colaborem para as metas de redução.

E as propostas não param por aí: em junho de 2022, o governo anunciou mais uma estratégia, alinhada aos propósitos sustentáveis — o Limpa-Entulho, uma usina móvel capaz de triturar entre 80 e 100 toneladas de resíduos de construção por hora. Com um custo de R$ 3,2 milhões por unidade, o investimento público considerou cerca de 27 consórcios de municípios, que deverão totalizar R$ 87 milhões.

Além dessas ações, o governo também tem incentivado ações que propiciem o desenvolvimento da eficiência energética de prédios públicos, a adesão ao Procel (que consiste no reconhecimento de produtos com eficiência energética garantida pelo Inmetro), e a modernização da iluminação dos hospitais do Estado. As medidas, ao mesmo tempo que fomentam a aderência a soluções verdes, valorizam os imóveis e agregam valor aos empreendimentos.

Felipe Faria, presidente do Comitê dos CEOs do World Green Building Council (GBC), afirma que a mobilização entre associações, empresas e poder público no Brasil é algo único no mundo. “Não vejo nada parecido em outros países onde o GBC está presente. Apenas 5% das construções do planeta atingiram o certificado LEED Platinum, o mais alto nível do selo GBC. Desse total, 8% estão no Brasil”, ressalta.

Fonte: AECWeb