Máquinas e equipamentos têm queda na receita líquida
“Máquinas e equipamentos são investimentos e sensíveis à variação dos juros. Normalmente, são bens financiados em anos”, diz José Velloso, presidente executivo da Abimaq. Após a taxa de investimentos ter caído de 20,5%, em 2013, para 14,6%, em 2017, houve aceleração de investimentos durante a pandemia. Em 2021, a taxa de investimentos subiu para 18,8%, coincidindo com a redução de juros pelo BC. O setor de máquinas e equipamentos, que não crescia desde 2016, teve altas de 10% em 2020 e de 28% em 2021.
“A partir da metade de 2022, com a alta da inflação, o BC iniciou o ciclo de alta de juros, o que gerou uma queda de 5% no setor. No acumulado de janeiro a julho de 2023, estamos com recuo de 9,2%, e a taxa de investimentos está muito baixa: 17,2%”, alerta Velloso.
Em relação ao futuro, o clima é de otimismo. Há demanda reprimida de atualização tecnológica e busca de produtividade, aceleradas pela transformação digital. No cenário macroeconômico, a inflação está controlada, o arcabouço fiscal foi aprovado, a reforma tributária já foi aprovada na Câmara e caminha no Senado e os juros voltaram a cair. “Estimamos uma taxa de juros de 9% no fim de 2024. A expectativa é de que os números do setor melhorem a partir do primeiro trimestre do próximo ano.”
Expectativa é de que os números do setor melhorem no primeiro trimestre”
— José Velloso
Mas Velloso alerta que é preciso combater o custo Brasil: além do custo de capital, há a questão tributária e o custo dos insumos. O aço tem, no Brasil, 24 instrumentos de defesa comercial e, segundo a agência Platts, da S&P, é 21,5% mais caro do que o aço importado. Cerca de 95% das empresas que consomem aço no país não têm acesso a usina e precisam comprar do distribuidor, que cobra 30% mais caro. “Em média, quando a fábrica compra aço no Brasil, está pagando de 45% a 50% mais caro do que o concorrente no exterior.”
A importação também não tem sido uma boa opção. De janeiro a junho de 2023, o setor importou 1,2 bilhão de toneladas de aço plano, o que não chega a 10% do que é consumido no país. Devido às dificuldades para a importação, as compras do setor são concentradas nas poucas siderúrgicas nacionais. “Somos 8.000 indústrias para pouco menos de duas dezenas de siderúrgicas”, diz Velloso.
A Fluid Feeder, fabricante de equipamentos para tratamento de água e esgoto, compra aço inox e aço carbono de distribuidoras, mas precisou montar uma logística para importação dos aços especiais que precisa, como superligas. “Há importadores no Brasil. Porém, o preço é muito alto. Temos contrato com uma trade com matriz em Santos (SP) e filial na China, onde agentes buscam o material com nossas especificações e auditam a fábrica”, explica Francisco Carlos Oliver, engenheiro e diretor técnico e comercial da empresa.
A Whirlpool, fabricante de utilidades domésticas, compra o insumo das siderúrgicas locais, mas também precisa importar. “Fazemos um mix, com um percentual maior no mercado local. O nível de competitividade do setor é impactado pelo custo do aço. Quando se coloca uma barreira tarifária para importação, mesmo que ela seja derrubada depois, o tempo para se desenvolver um fornecedor lá fora é grande, pois o aço tem especificações técnicas”, diz Eduardo Vasconcelos, diretor de relações institucionais, antitruste e comércio da Whirlpool para América Latina.
A John Deere compra diretamente das usinas quase 100% do que consome de aços planos, tubos e barras nas oito fábricas no Brasil. A empresa utiliza centros de serviços para cortar e estocar esse material antes de enviar para as fábricas e fornecedores. “Há tipos de aço que importamos, mas estamos trabalhando em alternativas de atendimento à especificação com as usinas locais”, diz Régis Tiecher, diretor de suprimentos da John Deere para América do Sul.
Na ponta de fornecedores para a indústria do aço, a thyssenkrupp Uhde fornece plantas de coque e de tratamento de gases de coqueria e tecnologias de transição energética. São seis clientes no Brasil que, além das plantas, demandam projetos para atender às exigências da legislação ambiental.
“A descarbonização já é realidade na siderúrgica do grupo na Alemanha, que tem a meta de até 2050 não usar mais carvão. Até 2030, vamos atuar com nossos clientes no Brasil com tecnologia de transição para captura de carbono. No futuro, teremos o hidrogênio verde substituindo o carvão”, diz Luiz Antonio Mello, head de vendas da thyssenkrupp Uhde para o Brasil.