O crédito destinado à indústria de transformação no Brasil caiu 40% entre 2012 e 2024, segundo a Nota Econômica nº 38 da Confederação Nacional da Indústria (CNI), com base em dados do Banco Central. O levantamento mostra que o setor industrial vem perdendo espaço no sistema financeiro, enquanto o crédito ao consumo e a outros segmentos da economia segue em forte expansão.
Além da indústria de transformação, o crédito também recuou 38% na indústria extrativa e 29% na construção civil. Em contrapartida, houve aumento expressivo para pessoas físicas (+97%), administração pública (+118%) e setor agropecuário (+38%). Como resultado, a participação da indústria no total de crédito nacional despencou de 27,2% para 13,7% em doze anos.
Para o presidente da CNI, Ricardo Alban, o cenário é preocupante e expõe um desequilíbrio estrutural na economia.
“O crédito para a indústria tem um efeito multiplicador essencial e é decisivo para o crescimento sustentável do país. A priorização do consumo em detrimento da produção limita investimentos, inovação e competitividade”, alertou Alban.
O estudo aponta que o problema não está na oferta geral de crédito — que se manteve estável —, mas na mudança de destinação dos recursos. Entre 2012 e 2024, a fatia destinada a pessoas físicas subiu de 45% para 63%, enquanto a das empresas caiu de 55% para 37%. O resultado foi o fortalecimento do consumo das famílias e o enfraquecimento da produção.
O impacto é mais grave nos financiamentos de médio e longo prazos, essenciais para compra de máquinas, inovação e modernização industrial. Nesse período, o crédito de médio prazo encolheu 55% e o de longo prazo 64%. Assim, o financiamento de curto prazo passou de 73% para 82% do total destinado à indústria, evidenciando uma estrutura cada vez mais voltada ao imediatismo financeiro.
Com menos acesso ao crédito produtivo, as empresas industriais enfrentam dificuldades para operar e investir. A falta de capital limita a expansão da capacidade produtiva e o avanço tecnológico, travando o crescimento econômico de longo prazo.
O descompasso entre crédito ao consumo e crédito ao investimento também gera pressão inflacionária e aumento das importações, já que a produção nacional não consegue acompanhar a demanda interna. Essa dependência de produtos estrangeiros afeta diretamente a indústria de transformação, o setor mais vulnerável à concorrência internacional.
O estudo da CNI reforça a urgência de políticas que restabeleçam o financiamento de longo prazo, garantindo condições adequadas para que a indústria volte a investir, inovar e gerar crescimento sustentável no país.