Falta de materiais pode prejudicar a retomada da construção civil

Na pandemia, o setor da construção tem enfrentando dificuldades para se recuperar, tanto por falta de material, quanto por aumento de custos.

Do terreno onde está, depois de quatro trimestres seguidos de perdas, a construção civil busca firmar os alicerces de uma retomada. Mas não tem projeto que pare em pé sem material de construção.

“O aço, o cimento e o cobre. O aço, por exemplo, foi o que mais teve impacto porque nós conseguíamos o aço em torno de dois a cinco dias, o prazo que nós conseguíamos no início do ano de 2020. E agora, esse prazo está entre 45 e 60 dias. Então, é um impacto muito grande na cadeia produtiva do empreendimento”, diz Milton Bigucci Junior, presidente da Associação dos Construtores do Grande ABC.

O economista José Roberto Mendonça de Barros explica que a extensão dos prazos é só o primeiro entrave para o crescimento do setor. O segundo é o preço. “Eu recebi outro dia um e-mail de um rapaz construtor aqui perto de São Paulo, constrói casas, sobrados, casas relativamente baratas e que dizia simplesmente o seguinte: eu parei de fazer construção porque simplesmente tudo o que eu fui orçar para fazer um novo conjunto de casas havia subido mais de 20%. E eu não tenho certeza se com esses custos eu consigo vender”, conta.

Na pesquisa mais recente, o IPCA, que mede a inflação oficial, acumula alta de 5% nos últimos 12 meses até fevereiro. No mesmo período, o Índice Nacional da Construção Civil passou de 10%. E no acumulado até março chegou a quase 12%, pressionado pelo custo dos materiais de construção.

“Há muitos e muitos anos que não se vê um índice dessa magnitude. Depois que a inflação caiu a níveis civilizados no Brasil, eu nunca tinha visto um INCC do mês de fevereiro tão alto assim. E a construção civil tem uma característica que ela é obrigada a comprar. Você, por exemplo, não tem o substituto para o aço, não tem o substituto para o cimento. São poucos os fornecedores desses materiais. Então, quando você tem um cronograma de obra para entregar, você tem que comprar e acaba sancionando qualquer preço que vier”, explica Eduardo May Zaidan, vice-presidente de Economia do Sinduscon São Paulo.

Para entender, tem que olhar para trás, porque esse cenário de baixos estoques reflete uma mudança de comportamento que veio com a pandemia. Quando o vírus e as medidas de distanciamento social levaram as famílias para casa, veio o desejo de reformar. E, depois, a renda do auxílio emergencial tornou viável a lista de compras. Foi a procura pelas lojas do varejo que levou ao limite a produção das fábricas de materiais de construção, dizem os analistas.

“Vieram as medidas restritivas – necessárias – e o que aconteceu foi que, logo em seguida, quando o mercado voltou a funcionar, nós tivemos um aumento de demanda. De repente, o meu nível de compra de faturamento para as lojas de material de construção mudou completamente”, diz Ana Oliva Troijoc, empresária do setor de fabricação de plástico.
A via de saída para o Brasil é obra de longo prazo, diz o economista. “Para sair dessa tem que começar a aumentar o investimento. Para aumentar o investimento, o ambiente econômico tem que melhorar. Está muito pesado o ambiente econômico e não induz ao investimento. Ao mesmo tempo, a chamada questão fiscal tem que ser encaminhada, bem como algumas mudanças mais estruturais que se chama de reforma. Então tem que ter muita paciência, porque isso é muito lento. Mas quanto mais tarde começar pior é, mais tempo demora para ter essa recuperação”, explica José Roberto Mendonça de Barros.

Fonte: G1