Como fazer o Plano de Gerenciamento de resíduos da Construção

A construção civil é considerada uma das indústrias com maior impacto ambiental no mundo. Ela é responsável por cerca de um terço da emissão dos gases do efeito estufa segundo a Green Building Council. Só no Brasil, os resíduos gerados pela construção civil seriam suficientes para construir 4 milhões de casas populares.

Neste artigo você saberá para que serve e como fazer um Plano de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil (PGRCC). Além disso, você entenderá qual a importância deste plano para a redução da geração de resíduos, as formas de reaproveitá-lo e por fim qual o melhor descarte para cada rejeito. Desta forma, você poderá reduzir o impacto das suas obras.

Através dos exemplos de construtoras que trabalham com reaproveitamento de resíduos dentro de seus canteiros e a destinação correta, você poderá extrair ideias e boas práticas. Além disso, trarei a você as diretrizes para elaborar um PGRCC de qualidade e guiar a destinação dos resíduos durante a sua obra.

Para que serve o PGRCC?

O intuito da legislação federal (Decreto nº 12.133/98 antecipou-se à Resolução CONAMA nº. 307/02) que dá as diretrizes do PGRCC é diminuir o impacto gerado pelos resíduos da construção. Para isso, ela cria uma cultura de planejamento da destinação correta destes resíduos. Vou apresentar a você algumas das influências e resultados causados por estas diretrizes.

O PGRCC tem o objetivo de planejar o descarte e a destinação correta dos resíduos da construção civil. Um dos resultados perceptíveis é a preservação ambiental. Isso se deve a diversos fatores, tais como a redução na demanda de materiais devido ao reuso, a destinação correta de materiais não inertes dentre outros.

Para você entender melhor cada um destes resultados, trarei alguns exemplos.

Exemplos de Aplicações e Resultados

O aço, por exemplo, pode ser destinado a reciclagens e ser reaproveitado para criar novas barras de aço. De fato, o aço é uma das matérias primas com maior reaproveitamento dentro da nossa indústria.

Um outro excelente exemplo é o reaproveitamento de restos de concreto para a geração de agregado. Existem usinas e inclusive construtoras que coletam as sobras de concreto, argamassa e alvenaria para triturar e segregar as diferentes granulações de agregados. Estes agregados são utilizados para novas misturas de concreto ou base para pavimentação, por exemplo.

Você pode pensar: mas então porque não faço isso com todo o resíduo da minha obra?

Lembrando um pouco da química dos materiais, existem elementos que são estáveis e elementos que precisam reagir com outros para se estabilizar. O cimento, por exemplo, deve reagir com a água para cristalizar e se estabilizar. Ao utilizar concreto para aterro, o cimento nele presente já sofreu a estabilização através da água que foi usada no concreto.

Por este motivo é possível utilizar concreto e argamassa moídos em aterros.

Quais materiais devemos tomar mais cuidado no descarte?

No entanto, existem elementos que podem desestabilizar a composição química do solo, podendo provocar a sulfurização do solo, contaminação do lençol freático, afetar a fauna e a flora. Um exemplo deste tipo de material é o gesso. https://blog.aegro.com.br/gessagem/

Em pequenas quantidades e com o acompanhamento de um técnico, é possível utilizar o gesso na neutralização das partículas de alumínio presentes no solo. Isso melhora a formação das raízes de plantas e a absorção do cálcio, macro nutriente importante para a saúde das plantas.

No entanto, o gesso também pode alterar a composição do solo de maneira prejudicial e contaminar o lençol freático. Além disso, existem elementos que são tóxicos e nocivos para o homem, fauna e flora. Estes materiais também devem ser destinados para reciclagem ou aterros específicos onde fiquem isolados do meio ambiente.

Por este motivo é que o descarte de materiais não inertes e tóxicos tem um custo mais alto. Este custo é o reflexo de todo o trabalho e investimento necessários para se ter uma estrutura e receber, tratar e destinar esses materiais corretamente. Este custo, há algum tempo atrás, era desconsiderado pois não havia tanta consciência do impacto causado no meio ambiente.

Hoje temos consciência deste impacto e temos diversos exemplos de danos ambientais provocados pelo descarte inadequado de materiais da construção civil. Isto reflete na legislação ambiental que se torna cada vez mais completa e detalhada, como também as sanções e a fiscalização mais rígidas.

Os resultados já são muito positivos e vem contribuindo para melhorias nas práticas da construção civil.

Onde e quando é necessário fazer um PGRCC?

O PGRCC é uma exigência de alguns municípios para a aprovação do projeto de uma edificação. Muitas vezes é disponibilizado um modelo, manual ou uma lista de itens que devem constar no documento. Apresentarei a você quais os itens normalmente exigidos neste documento.

Dados do contratante
Dados da contratada
Dados do responsável técnico da obra
Dados do responsável técnico do PGRCC
Dados do empreendimento
Cronograma
Descrição das quantidades e tipos de resíduos
Triagem e acondicionamento
Transporte
Empresa de destinação
Independente de onde for requerido o PGRCC, os dados requeridos não variarão muito. Por isso, para elaborar este documento, você antes precisa ter o projeto da edificação definido para saber quais materiais serão descartados. Além disso, você precisa definir qual a empresa que fara o recolhimento e destinação dos resíduos.

Neste caso, vale ter em mente alguns critérios como: existência de certificação ambiental, se será destinado a uma usina de reciclagem ou se será depositado em um aterro. Caso a empresa não apresente certificados ambientais de destinação correta, pode significar que o destino não seja correto. Sempre prefira a que recicle ao invés da que descarte em aterro.

Obrigatoriedade para Certificações de Sustentabilidade

Para você conseguir uma certificação LEED de sustentabilidade, por exemplo, um dos requisitos é apresentação do plano da correta destinação dos resíduos da sua obra. Para isso, é necessário fazer o levantamento detalhado dos materiais que serão utilizados e buscar a melhor destinação para cada um deles.

Esta é uma forma de incentivar ainda mais a busca de soluções cada vez mais sustentáveis e com menor impacto ambiental possível. Algo que facilita isso é a escolha da utilização de materiais e processos que reduzam a geração de resíduos. Pré-fabricado apresentam um consumo mais racional de materiais e reduzem a geração de resíduos.

Como construir gerando pouco resíduo?

Como mencionei, a construção pré-fabricada apresenta uma redução de resíduos em obra. Se pensarmos em uma edificação feita de placas de concreto, o desperdício na alvenaria será mínimo. Se formos além e pegarmos o exemplo das edificações modulares, o resíduo gerado no local da obra é virtualmente zero.

Devido a utilização de materiais industrializados sob medida em sua fabricação, a construção modular tem a capacidade de reduzir de 20% (construção convencional) para apenas 5% de desperdício. Os resíduos gerados muitas vezes são reaproveitados dentro da linha de produção em outra obra ou módulo, reduzindo ainda mais as perdas.

Por todos estes aspectos, a construção modular tem grande vantagem na redução de resíduos e precisa de um PGRCC mais enxuto.

Grande negócio!

Para você engenheiro ou profissional da área da construção, a legislação ambiental e consciência sustentável são grandes oportunidades de desenvolver negócios. A reciclagem dentro do canteiro, por exemplo, pode representar uma economia. Você pode encontrar novas utilidades dentro de suas obras para reutilizar resíduos e reduzir o descarte gerado.

Espero que este artigo tenha passado o conceito do que é e para que serve o PGRCC para que você possa elaborar o seu em sua próxima obra. Sem dúvida, este será uma exigência cada vez mais comum e importante.

Fonte: Revista Construa