Com Selic em queda, o que esperar para o setor de construção em 2024?

Considerados um dos setores mais sensíveis às mudanças na Selic, o segmento de construção pode ser beneficiado por uma perspectiva de queda nas taxas de juros nos próximos meses. Além da redução no custo dos financiamentos – estimulando a demanda por imóveis, especialmente entre os consumidores que dependem de crédito -, o movimento pode aumentar a atratividade dos investimentos, segundo analistas de mercado.

Vinicius Moura, economista e sócio da Matriz Capital, explica que com a queda da renda fixa, os investimentos em imóveis podem se tornar mais atrativos para os investidores, mas afirma que é importante ter cautela.

“O cenário macroeconômico é incerto, a inflação ainda está alta e o crescimento do PIB é moderado. Ainda existe também uma incerteza sobre o futuro da taxa Selic. O ritmo de queda da Selic ainda é incerto, e a taxa pode voltar a subir no futuro. Em resumo, a queda da Selic é um vento a favor do setor de construção, mas ainda há incertezas no horizonte”, explica.

Aa última decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), que foi unânime e amplamente aguardada pelo mercado, reduziu a taxa básica de juros brasileira para 10,75%, com o colegiado do BC indicando “elevação da incerteza e necessidade de maior flexibilidade na condução da política monetária”.

No caso do consumidor, Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, avalia que taxas de juros mais baixas significam menores custos de financiamento para a compra de imóveis, tornando a aquisição de casas ou apartamentos mais acessível e aumentando a demanda no mercado imobiliário. Assim, a maior demanda incentiva mais projetos de construção, alimentando um ciclo virtuoso de crescimento no setor.

“O inverso também é verdadeiro. Quando as taxas de juros sobem, o custo de financiamento para novos projetos e a compra de imóveis aumenta significativamente. Isso pode levar a uma desaceleração na construção civil, pois os projetos se tornam menos viáveis economicamente e a demanda por novos imóveis diminui com os financiamentos mais caros”, pontua.

Cruz reforça que o setor de construção civil é particularmente sensível às taxas de juros devido à natureza de longo prazo tanto do financiamento de projetos quanto dos empréstimos imobiliários. Para ele, pequenas variações nas taxas podem ter impactos significativos sobre a viabilidade de projetos de construção e a decisão de compra de imóveis.

“As taxas de juros no Brasil são muito voláteis e têm uma correlação positiva com as exportações líquidas, afetando os ciclos econômicos do país”, acrescenta.

Setor de construção: quais empresas se destacam neste cenário e quais merecem atenção?

Neste sentido, Vinícius Moura, da Matriz Capital, destaca algumas empresas que se destacaram na temporada de balanços do 4T23, encerrada há poucas semanas, e outras que ainda devem se recuperar ao longo do tempo.

Para ele, a Cyrela (CYRE3) apresentou forte crescimento nas vendas e lançamentos, com boa rentabilidade. A Plano & Plano (PLPL3) teve um bom desempenho operacional, com aumento da receita e do lucro líquido, enquanto a Eztec (EZTC3) foi uma surpresa positiva com a recuperação da margem bruta e a redução da alavancagem.

“Essas empresas se destacaram por boa execução da estratégia, com lançamentos bem-sucedidos, foco em nichos de mercado rentáveis e controle de custos; posicionamento estratégico, devido à presença em regiões com alta demanda por imóveis e foco em produtos com boa aceitação do público, além de solidez financeira, com baixo endividamento e boa geração de caixa”, salienta.

Em contrapartida, entre os destaques que merecem atenção, Moura acredita que a MRV (MRVE3) está em processo de reestruturação, com foco na redução do endividamento e na melhora da rentabilidade, enquanto a Gafisa (GFSA3) está buscando retomar o crescimento após um período de dificuldades.

“Essas empresas ainda precisam reduzir o endividamento, melhorar a rentabilidade e recuperar a confiança dos investidores, ao mesmo tempo que necessitam lançar novos projetos, aumentar as vendas e conquistar novos clientes”, explica o economista.

Fonte: Suno