Brasileira traduz ideias do Papa para arquitetura em Veneza

Houve um tempo em que catedrais e basílicas refletiam o luxo e a suntuosidade do papado. Grandes templos ornados com ouro e mármore e forrados de obras de artistas renomados deixavam evidente o alcance do poder da Igreja Católica. Mas seria possível traduzir o pontificado de Francisco, um papa desprovido de qualquer adorno, por meio da arquitetura? A brasileira Carla Juaçaba, 42 anos, mostrou que sim. Ela é uma dos 10 profissionais convidados para a primeira participação do Vaticano na Bienal de Arquitetura de Veneza, cuja 16ª edição começa no próximo dia 26 de maio. Assim como seus nove colegas, Juaçaba projetou uma capela para o pavilhão a céu aberto da Santa Sé, que ficará na ilha de San Giorgio Maggiore até 25 de novembro.

Não será a estreia da arquiteta na Bienal de Veneza – ela já havia contribuído para o pavilhão do Brasil em 2014 -, mas é a primeira vez que ela tira de suas pranchetas um projeto voltado para a fé. Mesmo não sendo católica, Juaçaba, autora de construções minimalistas e sustentáveis e dona de um extenso trabalho de pesquisa, foi convidada diretamente pelo curador do pavilhão do Vaticano, Francesco Dal Co.

“Foi uma surpresa maravilhosa. Ele escreveu me convidando em agosto do ano passado”, diz Juaçaba, em entrevista exclusiva à ANSA. O projeto da brasileira, desenvolvido ao longo de dois ou três meses, é, talvez, o mais simples dos 10 que marcarão a estreia do Vaticano na 16ª Mostra de Arquitetura de Veneza.

Única totalmente a céu aberto, a capela de Juaçaba é formada basicamente por duas cruzes de aço polido, uma deitada e outra de pé – esta última de ponta-cabeça, como a cruz do martírio de São Pedro. As quatro vigas que dão forma à capela são espelhadas, de forma a refletir o jardim dos arredores. Não há paredes, altares, vitrais, figuras, quadros. A própria cruz na horizontal, posta sobre o gramado, serve de banco para os fiéis, juntando dois elementos essenciais de uma igreja.

“A ideia é de uma capela que quase não existe. Quando ela passa a ser reflexiva, quase deixa de existir. É um pouco uma metáfora da passagem da vida, do existir, do não existir. Tem horas que vai brilhar com o sol, tem horas que a sombra vai ser muito importante”, explica a arquiteta.

A capela da brasileira e as dos outros nove profissionais ficarão em uma área verde da ilha de San Giorgio Maggiore, a poucos passos da basílica homônima projetada por Andrea Palladio (1508-1580), que, com sua clássica fachada branca e seu campanário de pedra da Ístria e cume cônico, forma uma das paisagens mais fotografadas de Veneza.

Fonte: Obra 24horas