Azulejos ganham status de obra de arte e são usados em toda a casa

Eles saem do banheiro e cozinha, ganham cores vivas e formas geométricas.

Os azulejos sempre estrelaram as casas desta ex-colônia portuguesa, que volta e meia dá um jeito de esquecer suas raízes em busca de tendências gringas. Mas os quadradinhos esmaltados estão de volta, e não apenas em banheiros, cozinhas ou nos “registos”, os santos que há anos enfeitam as fachadas das casas, especialmente na Zona Norte do Rio. Eles voltam a cobrir também paredes de salas, quartos, halls e varandas.

Atualmente são vedetes os trabalhos do Coletivo MUDA, um grupo formado em 2010 pelos designers Bruna Vieira e João Tolentino e pelos arquitetos Diego Uribbe, Duke Capelão e Rodrigo Kalache. Eles começaram interferindo no espaço público e, segundo dizem, oferecendo uma experiência urbana para destacar locais esquecidos. Junto com Athos Bulcão e Noel Marinho, passaram a ser os queridinhos de arquitetos e decoradores que encomendam painéis exclusivos para seus projetos.

O arquiteto Mauricio Nóbrega conta que fez o hall de uma casa em São Paulo especialmente para receber os azulejos portugueses comprados em Lisboa pelo seu cliente:

— São peças antigas de um convento do século XVIII, e foi preciso uma autorização da Direção Geral do Patrimônio Cultural, de Portugal, para importá-las. Mas gosto muito de usar azulejos em meus projetos, especialmente do Muda e do Athos Bulcão.

Um enorme painel de cores claras, feito sob medida para um apartamento que tinha sofrido um incêndio, foi uma das soluções da arquiteta Gisele Taranto para uma sala. Já André Piva gosta muito do recurso, que usou em restaurantes. Ele chegou a desenhar móveis com os azulejos de Adriana Varejão. Em seus projetos, os quadradinhos estão presentes tanto em áreas internas quanto em áreas externas.

As arquitetas Adriana Valle e Patricia Carvalho usaram os azulejos na sala de um apartamento do Leblon.

— O projeto tem uma vibe industrial, queríamos cores que remetessem ao Rio, já que os proprietários são paulistas.

Para o arquiteto Miguel Pinto Guimarães, os painéis de azulejos não são um revestimento, mas uma obra de arte:

— Gosto da expressão gráfica que eles trazem à decoração. Costumo usar em áreas externas também.

O arquiteto Noel Marinho, falecido recentemente, estava se dedicando às reedições de seus azulejos.

— Num apartamento, ele tratou o painel como se fosse um quadro, usando uma moldura recuada em espelhos para que parecesse flutuar — explica sua filha, a arquiteta Patricia Marinho.

Está todo mundo em seus quadrados.

Fonte: Obra 24horas