Aumento nos custos da construção gera impasse entre construtoras e incorporadoras

O aumento nos custos de produção tem causado dificuldade para as empresas de construção, que enfrentam desafios para cumprir os contratos junto às incorporadoras. O evento promovido pelo Sindicato da Construção Civil do Estado de São Paulo na semana passada orientou empresários a lidarem com os impactos da elevação dos preços em contratos de construção.

Embora habitualmente sejam vistas como sinônimos, as incorporadoras são responsáveis por idealizar os projetos (há também incorporadoras que constroem, conhecidas como ‘puras’), enquanto as construtoras constroem os prédios. O contrato entre ambas, geralmente, é por meio de um preço fechado e é reajustado pelo Índice Nacional de Custo da Construção, que, no entanto, não tem conseguido refletir o aumento dos materiais, causando prejuízo às construtoras.

Na construtora e incorporadora do diretor-presidente Cesar Silveira, o modelo de contrato de preço fechado para novas obras está passando por uma nova reestruturação, embora ainda não haja problemas para executar os projetos. Cesar conta que a empresa tem sido procurada por aqueles que não estão dando conta dos empreendimentos em função do aumento nos preços. “Tem muita gente desesperada tentando milagre, muitos não vão conseguir honrar esses contratos”, ele conta.

O vice-presidente institucional do Sinduscon, Yorki Estefan, criticou a elevação de preços por parte da indústria dos materiais, sobretudo de aço e cimento. “A longo prazo, o que adianta uma empresa subir tanto assim os seus valores se ela não tem pra quem vender? A indústria tem que ter bom senso e visão sistêmica.”

Do outro lado, os fabricantes de materiais justificam o aumento de preços. “O insumo subiu demais na opinião de quem? Tem guerra na Ucrânia, todo mundo sabe o que está acontecendo, as matérias-primas e insumos energéticos subiram por conta desse fator”, defende Marco Polo de Mello Lopes, presidente-executivo do Aço Brasil, ele ainda relata que a narrativa do setor da construção ‘já cansou’.

Produtores de aço e cimento entendem que a elevação dos insumos está acontecendo, mas alegam que o mercado imobiliário tem conseguido repassar essas elevações ao preço das unidades.

Para Olivar Vitale, conselheiro jurídico do sindicato, existe a possibilidade de alegar o princípio da imprevisibilidade, medida que permite a revisão dos valores, mas em contratos recentes isso é mais difícil, por isso é importante incluir a observação sobre os custos da obra. “Os construtores têm que se unir, não dá mais para aderir aos contratos sem cláusulas necessárias”, disse.

Outra medida para auxiliar o impasse recomendado pelo setor da construção para o INCC é a inclusão de novos métodos produtivos e tecnologias. Eduardo Zaidan, vice-presidente de economia do Sinduscon-SP diz que já existem estudos sobre isso, mas essas atualizações não saem antes de três anos.

Incorporadoras que terceirizam as obras já estão encontrando formas de ajudar suas parceiras. A NextRealty tem conversado com as construtoras e adiantado a compra de alguns insumos cujos preços vêm aumentando muito, como caixilhos, fiação de cobre e aço.

“Antecipamos essas aquisições e armazenamos junto com os fornecedores, no canteiro ou em galpão alugado, para não sofrer tanto impacto”, afirma Felipe Antunes, um dos fundadores da empresa.

Felipe entende que com o dissídio dos trabalhadores da construção paulista de 12,47% aprovado em maio, o INCC deve aumentar nos próximos meses, ajudando a reequilibrar os contratos.

Com o índice em alta o valor das parcelas de quem comprou um imóvel aumenta, além disso, combinada a um cenário de aumento dos juros, o INCC em alta aumenta o valor das parcelas para quem comprou um imóvel e pode, com isso, reduzir novos lançamentos. Se esse cenário se confirmar, a venda de materiais de construção também diminui, o que, por sua vez, tende a equilibrar os preços estipulados pelos fabricantes. No entanto, esse ciclo é demorado.

O Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC) demonstra preocupação com a queda nos lançamentos de novas unidades, que segundo o Sindicato da Habitação, atingiu uma redução de 43,76% em relação a março.

Fonte: Valor Econômico