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Apesar de salários altos, construção civil enfrenta desafios em contratações

Em meio à menor taxa de desemprego da história recente do país (5,6%), registrada no trimestre até agosto pelo IBGE, a construção civil vive um paradoxo: mesmo oferecendo salários recordes e acima da média nacional, o setor tem dificuldade para contratar. Segundo o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), o número de novas vagas na área atingiu o pior desempenho para o mês de agosto desde 2021, com forte desaceleração das contratações.

De acordo com o levantamento, o saldo líquido de empregos formais no setor chegou a 17,3 mil em agosto — alta de 25,5% frente a 2024, mas 51,8% menor que o volume de 2022. No acumulado de janeiro a agosto de 2025, o número de contratações caiu 9,4% ante o mesmo período do ano anterior, somando 194,5 mil postos, o pior resultado desde 2021. A tendência reflete a desaceleração geral do mercado de trabalho, com redução de 38,4% nas contratações formais em todos os setores econômicos.

Salários altos, mas falta de interesse

Mesmo com o salário médio da construção atingindo R$ 2.462,70 em São Paulo — o mais alto entre os segmentos analisados pelo Ibre —, a profissão tem se tornado pouco atrativa, especialmente entre os jovens.
“O salário é bom, mas há preconceito com o trabalho braçal. Muitos não querem ser ‘peões de obra’”, afirma Antonio de Souza Ramalho, presidente do Sintracon-SP. O piso do pedreiro, em torno de R$ 2,6 mil, reforça a valorização da categoria, mas o setor discute novas nomenclaturas e planos de carreira para modernizar a imagem da profissão.

A escassez de mão de obra é mais grave em funções menos mecanizadas, como ajudantes e serventes. “Há dificuldade para repor trabalhadores, o que pressiona custos e reduz produtividade”, explica Yorki Estefan, presidente do Sinduscon-SP. Segundo ele, a falta de profissionais e os juros altos são os principais entraves do setor, que também viu o Índice de Confiança da Construção (ICST) cair para 91,6 pontos, o menor patamar desde 2021.

Juros e crédito limitam lançamentos

O vice-presidente da CBIC, Ricardo Michelon, ressalta que a construção civil é altamente sensível à taxa de juros e às incertezas macroeconômicas. “Há um freio no setor, e o impacto da escassez de mão de obra pode durar até cinco anos, tempo médio de execução de uma obra”, diz.

Os empreendimentos de médio padrão são os mais afetados, pois o crédito mais caro reduz lançamentos e vendas, explica Estefan. Já a habitação popular, impulsionada por programas como o Minha Casa, Minha Vida, mantém o ritmo e ajuda a equilibrar o cenário.

Para Ana Maria Castelo, coordenadora de projetos do Ibre, a desaceleração também é reflexo do ciclo produtivo do setor. “Vendas menores nos últimos três anos agora resultam em menos obras e adiamento de projetos. É um ajuste natural em um contexto econômico mais restritivo”, analisa.

Mudança de perfil e busca por estabilidade

O setor emprega cerca de 3 milhões de trabalhadores com carteira assinada, segundo o Caged. Muitos buscam estabilidade em outras áreas, como a indústria, atraídos por benefícios formais como FGTS e previdência. “O modelo de pagamento por produtividade ainda é um problema, pois parte da remuneração fica fora da folha, sem contribuição social”, afirma Valderi Cardoso, gerente de mão de obra de uma construtora.

Além disso, os pedidos de demissão cresceram no último ano: as desligamentos subiram 5,8%, enquanto as contratações aumentaram apenas 3%. Mais da metade (61%) das saídas ocorreram sem justa causa, índice bem acima da média de outros setores.

Michelon defende uma reforma trabalhista específica para modernizar as relações no setor. “O emprego formal ficou excessivamente burocrático. Precisamos de regras mais ágeis para dar fôlego às empresas”, propõe.

Apesar do quadro de desaquecimento, a economista Janaína Feijó (FGV Ibre) prevê estabilidade no emprego até o fim do ano, impulsionada pelas festas de fim de ano e pelo crescimento no comércio e serviços. Para 2026, ela acredita em uma retomada moderada, sustentada pela queda gradual dos juros e pelo avanço dos programas habitacionais e de reformas.

“O desafio agora é manter o ritmo e atrair novas gerações para o setor. Sem mão de obra qualificada, não há crescimento sustentável”, conclui.

Fonte: Construa Negócios